Aula 1 – Surgimentos, Conceitos e Filosofia

Saudações caros aprendizes, é uma grande honra tê-los aqui em nossa plataforma de ensino para uma aprendizagem de forma clara, objetiva e segura. Este curso foi desenvolvido para aqueles que querem enriquecer seus conhecimentos sobre Kimbanda, portanto, este curso não é uma iniciação e nem muito menos é uma formação de pessoas em sacerdotes.

Costumamos sempre dizer em nosso centro cultural que antes mesmo de se iniciar, escolher um caminho, é necessário compreênde-lo para que realmente verifique se é o que deseja escolher. E nesta aula teremos como objetivo principal esclarecer sobre como surgiu a Kimbanda, seus conceitos e filosofias.

Quando pensamos na palavra “Kimbanda” é muito comum que a nossa mente lembre de Exú. Mas afinal você sabe o que é Kimbanda? 

A origem da palavra Quimbanda, muitos sacerdotes chegam a afirmar que Quimbanda é o lado negativo da Umbanda, e para outros uma prática de magia negra, mas sabemos que a magia não tem cor, nem é branca, nem é negra, magia é só uma. O bem ou o mal está dentro de cada ser humano. Temos o livre arbítrio de pensar e agir como quisermos. E o que é errado para uns, é certo para o outros. Muitos categorizaram a magia dando adjetivos, talvez para fins didáticos, para conseguir explicar o que era para bem e para o mal, mas é necessário que você entenda que este conceito de magia negra ele é medieval, surgiu na tentativa de “catequizar” a magia, usando a bíblia como referência do que era proibido e permitido. Para que você entenda, na prática até mesmo o que muitos acham que é só para o mal (magia negra) pode muito bem ser utilizada para saúde, prosperidade e fins benéficos.

O substantivo Quimbanda, não sofreu influência de nossa língua, a palavra Quimbanda está dentro do nosso conteúdo gramatical, da mesma maneira real que surgiu de sua verdadeira fonte de origem, que é o Quimbundo.

Quimbundo é uma mistura de dialetos africanos, criado pelo governo para ser ensinado nas escolas das colônias portuguesas, afins de que todos angolenses se entendessem entre si nas regiões tribais de Angola e Moçambique.

🔰 Vejamos:

Quim ou Kim, quer dizer: médico ou grão-sacerdote dos cultos Bantos.

Banda, significa: lugar ou cidade.

Quimbandeiro quer dizer Grão-sacerdote dos cultos Bantos, vindos de Angola, Moçambique e Benguela.

Etimologicamente podemos compreender, que Kimbandeiro ou Quimbandeiro é toda pessoa que procura buscar a anunciação e interpretação através dos fatos.

Quando buscamos entender as origens das palavras e seus significados, conseguimos refletir sobre as suas formas de utilização dentro das tradições culturais. Quando ouvimos uma cantiga de Kimbanda “sua Banda está lhe chamando, ele vai se retirar…”, eu já conheci pessoas que achavam que estava se referindo a uma banda musical, embora possamos ter o Reino da Lira na Kimbanda, a realidade é que boa parte das cantigas que cita “Banda” é para se referir o lugar ou origem de onde aquele espírito veio ou voltará.

Mas entre Kimbanda ou Quimbanda, qual devemos utilizar?

Ambas palavras estão corretas. A diferença é que o uso de “Quimbanda” seria em português, diferentemente que “Kimbanda” que é originalizada do idioma Quimbundo.

No Brasil ficou definido como sendo uma linha fundamental e de importância dentro do sistema Umbandístico.

Um Kimbandeiro tem diversas interpretações e nomeações que não seria de “satânico”, podemos defini-lo como um bruxo, feiticeiro, curador, benzedeiro, exorcista, podendo ser definido também como um necromante por ser um culto de espíritos que já viveram na terra, espíritos que podem ser consultados para adivinhações. A própria palavra Kimbanda está ligada de forma direta a curandeiro espiritual, feiticeiro e um praticante de Kimbanda.

Assim podemos presenciar na classificação na Gramática Kimbundu, pelo Prof. José L. Quintão, que definiu um cultuador de Kimbanda Malei como: “feiticeiro, exorcista, benzedeiro, necromante e curandeiro de um terreiro espiritual.”

IMAGEM: JEAN-BAPTISTE DEBRET (1816-1830).
Negro Muçulmano, quadro do século 19; escravos islâmicos tiveram grande relevância política na história do Brasil.

O termo malê pode ter sido originalizado de “fora da lei” (Da ma’lei, fora da lei cristã), podendo também ter vindo do iorubá “imalê” (significando “mulçumano”), era um dos termos usados no Brasil no século XIX para designar mulçumanos. Muitas das vezes eram mais instruídos do que os seus senhores, e, apesar da condição de escravos não eram submissos, mas muitos altivos. Também podendo vir de Mallé, Malal ou Mali (Império do Vale do Niger), segundo Nina Rodriigues, ao que leva a entender que seria a hipótese mais exata.

O uso do termo malê é muito comum no Brasil, principalmente na Bahia aos negros maometanos-tapa, grunsi, bornu (kanuri), entre outros, tendo também como destaque hauçá que dominaram os demais. Embora os sudanenses adoram a religião islã, dominante no sul da África.

O termo macumba pode significar culto aos ancestrais, devido o fato que Makungus são ancestrais dentro da Kimbanda. Macumba também pode ter sua origem no antigo instrumento de percussão de origem africana, embora o uso da palavra no Brasil possui uma designação genérica para se referir os cultos afro-brasileiros, devido até mesmo ao uso do instrumento dentro das ritualísticas. Dizer que macumba se refere a maldade, é resultado da falta de conhecimento cultural e histórico.

O Culto à Kimbanda surgiu da mesma maneira que a Umbanda que começou por Zélio Fernandino de Moraes. Ninguém conhecia esta forma de culto, até que os compadres e comadres (forma como os antigos chamavam as entidades) começaram a incorporar nos médiuns reivindicando seu direito ancestral, ensinando todo seu culto e conhecimento ancestral acumulado. As cantigas eram chamadas de “pontos”, devido o fato de quem ensinou e cantou as primeiras cantigas foram as próprias entidades. Toda vez que se deparamos com pontos, devemos lembrar que eles são ensinados diretamente pelas entidades e temos: pontos cantados (as cantigas) e pontos riscados (simbologias). A Kimbanda preservou seus aspectos naturais envolvendo a cultura africana e não se sincretizou com a cultura católica, diferentemente que a Umbanda. Até os dias atuais encontramos praticantes que chamam a Kimbanda de “linha de esquerda”, devido a recusa em seguir ensinamentos vindos da igreja.

IMAGEM: Edward Kelley. Coloured aquatint. Wellcome V0003199.

As entidades cultuadas na Kimbanda em sua boa parte, são pessoas que já tiveram vidas terrenas em nosso planeta, viveram diversos tipos de experiências, sendo algumas boas e outras ruins. Muitos desses espíritos reencarnaram por diversas vezes até atingir um alto nível de evolução espiritual, em que não precisam mais viver de forma terrena (encarnados), muitos acabaram escolhendo retornar para o nosso plano físico  para cuidar da Terra de forma espiritual ou astral, também para guiar os seres em suas trajetórias e caminhos de vida, deste princípio surgiu pelos antigos a idéia de chamar as entidades de senhores e senhoras dos caminhos.

Necromancia (necro do grego clássico νεκρόςnekrós, “morte”; e mancia de μαντείαmanteía, “adivinhação”), podemos perceber que a Kimbanda tem sua forte ligação com a necromancia, o culto é voltado aos mortos, ancestrais desta terra e ainda podendo ocorrer manifestações de alguns deles nos médiuns ou comunições por oráculos (meios de comunicação espiritual).

As entidades da Kimbanda são responsáveis pelo movimento humano, estimulam vontades, podendo fazer com o que está longe se tornar perto e o que está perto se tornar distante, daí surge o sentido de serem energias propulsoras, ligadas ao movimento e que impulsionam pessoas a chegarem em seus caminhos de sucesso. Por isto um dos objetivos principais de cultuar Exu é ter caminho na vida, ter longevidade, proteção por onde andar, conseguir remover as barreiras que lhe impede de percorrer seu caminho.

São entidades difícies de lidar, pois quando não são tratadas fielmente, o que dão podem tirar. E o motivo desta dificuldade é que é muito difícil defini-los de forma plural, porque cada entidade possui suas histórias de reencarnações, possuem conhecimentos diferentes, gostos diferentes, especialidades diferentes e principalmente manifestações diferentes, podemos dizer que EXU É CAMINHO, mas não conseguimos definir que todos gostam das mesmas coisas ou e viveram da mesma maneira. Cada ancestral possui sua própria particularidades.

São entidades consideradas ligadas a humanidade, pois vem dar conselhos e ajudam as pessoas. Um exemplo:
A Pomba-Gira que tanto sofreu de amor, conseguirá aconselhar da melhor forma para que aquela pessoa não erre da mesma maneira que ela errou em vida. E que não passe pelo sofrimento que ela passou em vida terrena.

O Exú que perdeu todos que amavam em um assalto a sua tribo, quando vem, nos alerta do perigo e nos protege contra a morte prematura.

Podemos analisar que nos exemplos dados, conforme eles vão vivendo diversas vidas, vão adquirindo diversas experiências e criando suas particularidades, o que forma a sua zona de atuação (especialidades) E eles conhecem os sofrimentos e desejos dos humanos, corações e pensamentos de cada um, por isto ninguém engana este povo.
Alguns deles são guardiões dos portais, mensageiros espirituais, mestres de alta magia, curandeiros e feiticeiros. Por conta de seus múltiplos aspectos, muitos não conseguem defini-los. Muitos consideram senhores de todos os caminhos, talvez seja pelo fato deles serem donos de nossos pés e mãos (dos caminhos e dos atos).

Como costumamos dizer:
“Cultuamos Exus onde tem caminhos, porque Exu é movimento, ele faz a vida prosperar em ambos os sentidos.”

Black suit II | Fabian perez, Painting.
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